Religião
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Relativismo doutrinário
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Visão de “relativista” sobre doutrinas religiosas
Estive lendo as inúmeras ofensas que
protestantes e católicos escreveram neste site e estou a me questionar pra quê
isso? Cada qual tem suas crenças, cada um se julga certo, mas e o Amor? E a
união? Jesus Cristo deve se entristecer muito com esse monte de acusações e
divisões.
Um fala dos papas, o outro de Calvino, quando todos sabemos que somos apenas
pecadores. O que vocês esperavam de pecadores? Que fossem perfeitos? Que não
errassem? A inquisição foi terrível, mas Calvino também foi terrível. Hitler
perto de T.Torquemada é um aprendiz de vilão, mas nem por isso o podemos achar
santo.
Façam um favor a vocês mesmos: aperfeiçoem-se no amor, falo isso tanto ao
protestante como ao católico. Eu sou presbiteriano e nem por isso me sinto
ofendido pelo papa chamar a minha religião de seita herética, é apenas uma
questão de ponto de vista, pra nós eles são seita herética. E creio que ambos
estamos errados. Todos temos o direito de ter nossas opiniões, senão
voltaríamos à inquisição.
Espero que os 2 reflitam e pensem na oração de Jesus: "a fim de que todos
sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós;
para que o mundo creia que tu me enviaste." Jô 17:21.
Ser evangélico ou ser católico não tem importância alguma, o que importa é o
amor, a misericórdia, a fidelidade, a caridade e a união.
Não me levem a mal e que Deus nos abençoe a todos, pois tenho certeza que todos
estaremos juntos um dia, lá no céu, onde não haverá mais religião, pois já
estaremos religados ao Pai.
RESPOSTA:
Prezado, salve Maria!
O que você defende é o relativismo doutrinário. Para você, cada um tem a sua
própria verdade. Essa tese é a do subjetivismo negador da existência da
verdade.
Meu caro, a verdade é objetiva. Ela não depende de ponto de vista, coisa
nenhuma. Ela depende do objeto conhecido. O lugar onde cada um tem sua verdade
pessoal, provinda de um ponto de vista muito pessoal, é o hospício onde cada
louco pode se julgar Napoleão ou o Flash Gordon. Ou o Pinóquio.
Verdade é a correspondência entre a idéia do sujeito conhecedor e o objeto
conhecido.
Idéia do sujeito <-------- Objeto conhecido.
Nossas inteligências "fotografam" os objetos, e extraem deles uma
idéia abstrata. A verdade é a correspondência exata entre essa idéia e o objeto
conhecido.
Se cada um tivesse uma “fotografia" pessoal do objeto real conhecido, seria
impossível conversar, ou mesmo viver em sociedade.
Imagine dois homens jogando xadrez. O que aconteceria se cada um deles tivesse
uma idéia pessoal das peças do xadrez?
Simplesmente não seria possível jogar.
Cada um veria o cavalo, ou o Rei, ou a Dama de modo diverso. Um poderia tomar a
torre como copo de refrigerante e tentaria beber a torre. Outro veria o cavalo
como martelo, e começaria a dar com ele na cabeça do rei, porque a via como
prego. E assim por diante.
Essa partida louca de xadrez é o que você imagina das posições religiosas.
Isso é um absurdo.
Assim como dois jogadores de xadrez vêem as peças do jogo do mesmo modo, assim
também todos os homens vêem a realidade do mesmo modo.
Quem introduziu o subjetivismo na religião foi Lutero, ao defender que cada
homem poderia interpretar a Bíblia a seu modo.
O resultado dessa loucura foi à multiplicação das seitas protestantes. Hoje
existe até uma delas que se intitula igreja evangélica Sopa Sabão e Salvação.
E o que Lutero fez na religião, introduzindo o subjetivismo na leitura da
Bíblia, a Filosofia idealista alemã e o Romantismo fizeram na leitura do mundo.
Kant e os demais filósofos protestantes introduziram o livre exame na
interpretação da realidade do mundo. Cada um teria a sua verdade pessoal sobre
tudo, desde Deus até chuchu. E o mundo virou um hospício. Cada um com sua
religião. Cada um com a sua verdade. Como na Torre de Babel, ninguém mais se
entendeu.
E nessa torre de babel em que vivemos, você vem falar do amor , sem perceber
que nesse hospício relativista, cada um tem uma idéia diferente e pessoal do
amor.
Você percebeu que a idéia de amor do Bin Laden é muito original?
Você gosta de xoró no avesso?
Certamente que não, porque se xoró não existe, quanto mais no avesso.
Então é impossível você amar xoró no avesso, pois só se ama o que se conhece.
Só se pode amar o que se conhece. Não há amor sem conhecimento. O amor provém
do conhecimento. Conhecendo que algo é bom, nós queremos esse bem.
Amar é querer bem a outrem. Ora, só poderemos querer bem, se sabemos o que é o
bem.
O amor provém então da verdade. Quando você nega a verdade objetiva, você está
negando o bem objetivo. Você está negando e impossibilitando o amor.
O que você chama de amor é um sentimento romântico, que nada tem a ver com o
amor, que é um ato da vontade.
E é falso que não se pode querer que todos sejam perfeitos, pois Cristo nos
disse:
"Sede perfeitos
como também vosso Pai do celestial é Perfeito" (Mt. V, 48).
Deus é absolutamente perfeito. Nós podemos ser relativamente perfeitos.
Se fosse impossível alcançar a perfeição Jesus teria errado nos mandando que
fôssemos perfeitos.
E noutra passagem Jesus disse ao jovem rico:
"Se queres ser perfeito,
vai, vende o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu" (XIX,
21).
Logo, é possível ser perfeito, com a graça de Deus, e é o que devemos desejar
para nós e para os outros, mesmo para os pecadores. Por isso Cristo converteu a
tantos pecadores, por exemplo, a adúltera, a mulher do poço, o publicano Levi,
e a tantos mais.
Quanto à sua idéia de que é errado acusar quem está em erro, porque "Cada
qual tem suas crenças, cada um se julga certo, mas e o Amor? E a união? Jesus
Cristo deve se entristecer muito com esse monte de acusações e divisões", essa
sua idéia condena o próprio Jesus Cristo. Pois você nunca leu, nos Evangelhos
que Jesus dirigia palavras bem duras aos fariseus?
Leia, por exemplo, o capítulo XXIII do Evangelho de São Mateus, no qual Cristo
chama os fariseus de "hipócritas" e de "cegos", de
"sepulcros caiados", de "serpentes" e de "raça de
víboras". E noutra passagem os chamou de "filhos do demônio" (Jo
VIII, 44).
Se você, presbiteriano que é, se você estivesse assistindo à discussão de
Cristo com os fariseus, você interviria, dizendo a Jesus e aos fariseus:
"Cada qual tem
suas crenças, cada um se julga certo, mas e o Amor? E a união?".
E você, como
presbiteriano que quer a união de todos -- "assim na terra como nos céus”
-- você acharia ruim que Cristo disse:
"Não julgueis
que vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o filho de seu pai, e a
filha de sua mãe, e a nora de sua sogra” (MT X, 34).
Meu caro
romanticamente amoroso, saiba que o inferno é que é ecumênico e relativista.
Mas lá, como nos séculos modernos, reina o ódio. No inferno é que haverá
"liberdade" dos rebeldes pensarem o que quiserem. E
"livremente" se atormentarão.
No céu, haverá uma só verdade. O céu não é nem ecumênico, nem relativista, mas
católico. No céu, todos terão uma só verdade.
O último que no céu defendeu sua opinião própria foi Lúcifer, e, por isso, ele
foi jogado no caldeirão dos relativistas, onde cada condenado tem a sua
opinião. No tormento eterno. Porque não querem ser convencidos pela única
verdade que é Cristo, Deus e homem, filho da sempre Virgem Maria.
E você repare como nossos tempos parecem muitíssimo com o inferno, pois também
hoje, cada um pensa ter a sua verdade.
E onde está o amor em nossos dias?
Rogando a Deus que lhe abra os olhos, me subscrevo,
in Corde Jesu et
Mariae, semper,
Orlando Fedeli